quarta-feira, 8 de julho de 2015

Luz para o Oriente

As portas que estão se abrindo para o evangelho num país em que a igreja foi clandestina por várias décadas

Relatório da Divisão do Pacífico Norte-Asiático apresentado
na assembleia mundial em San Antonio, nesta terça-feira, 
8 de julho, mostrou os avanços e desafios da igreja nesta 
parte do globo. Foto: Leônidas Guedes
Há alguns meses, minha esposa e eu desembarcamos do outro lado do globo. Levamos alguns dias para superar os efeitos do fuso-horário de mais de dez horas de diferença à frente do Brasil e algumas semanas para iniciar o processo de adaptação gradual às diferenças culturais. Hoje, estamos focados no aprendizado e domínio da língua local, na compreensão da cultura e em desenvolver um planejamento estratégico sustentável de longo prazo. Para tanto, como lição de casa, estudei o histórico da igreja nesse país, as necessidades da sociedade local e como podemos cooperar para a missão de Deus nesse lugar.


Igreja clandestina

A história do adventismo nesse país pode ser dividida em três fases:

1886 a 1949: os primeiros adventistas chegam ao país, encontrando campo fértil e uma grande colheita é testemunhada. Milhares de pessoas receberam estudos bíblicos, inúmeras séries de evangelismo foram organizadas, erigidos hospitais, casa publicadora, centro de formação teológica além de uma sede administrativa com status de Divisão, que coordenava o trabalho no país. Havia também muitos líderes capacitados, estrutura organizacional praticamente consolidada e adventistas maduros e comprometidos.

1950 a 1990: uma dramática série de mudanças políticas fechou as portas do país para a liberdade religiosa: missionários estrangeiros foram expulsos, o evangelismo foi proibido, as propriedades da igreja foram confiscadas e diversos pastores e lideres presos ou executados. A religião passou a ser controlada pelo Estado através de uma entidade secular e a sede da denominação foi realocada fora do país e sem permissão para intervenções diretas, atuando apenas como um órgão consultivo da igreja mundial.

1990 até o presente: através da globalização, o país tem experimentado acentuado crescimento econômico, abertura para valores ocidentais como a cultura de consumo e certa tolerância religiosa, ainda que lenta e progressiva. O fato é que, desde a década de 1990, um novo “despertamento” religioso tem sido testemunhado por aqui. Deus, de alguma forma, não somente preservou os adventistas locais como os multiplicou de 20 mil para 400 mil fiéis. Diversos missionários estrangeiros têm trabalhado cautelosamente no país e existe agora um cenário mais favorável para isso.


Barreiras que se erguem

Os desafios para a missão aqui são muitos, mas destaco os maiores. (1) estruturais, a repressão religiosa liderada pelo Estado impediu a ação organizacional da igreja. Consequentemente, desde 1949 a igreja no país opera no modelo “congregacionalista”, pastores (em grande maioria leigos) têm total autonomia sobre dízimos, espaços de culto, formas litúrgicas e o ensino das crenças; (2) teológico e doutrinário: o “congregacionalismo” contribuiu para a formação de “versões do adventismo”, cada qual com seu pacote doutrinário e liberdade para realizar a ordenação sem quaisquer critérios bíblicos. Há também poucos pastores com formação teológica (estima-se menos de 250) o que faz com que as igrejas existentes sejam em geral superficiais em sua apresentação da verdade bíblica e até pouco atrativas para os visitantes.

(3) resistência cultural às mudanças. O país possui uma história milenar de guerras, fome, caos e conflitos por poder, que mataram, somente no último século, mais de 90 milhões de habitantes. Portanto, quaisquer tentativas de mudanças bruscas na cultura ou na igreja ascendem a luz de alerta geral na mente dos nativos; e (4) domínio da língua local. Muito distinta das línguas ocidentais, aprendê-la é um desafio. Porém, apesar do pouco tempo de conivência no país, minha esposa e eu já conseguimos compreender o que as pessoas falam e expressar ideias básicas.


Portas que se abrem

Vejo que as oportunidades são maiores do que os desafios. A principal porta que se abre aqui é a percepção dos adventistas locais de que eles precisam de ajuda estrangeira. Meio caminho andado para um missionário! Muitos membros são realmente sedentos pela verdade e extremamente comprometidos com a missão. Talvez falte orientação.

Como áreas de atuação, penso que o tripé – educação, saúde e pregação – utilizado por Jesus e valorizado pela Igreja Adventista pode responder às necessidades imediatas deste lugar. O ensino superior é avançado no país, mas a educação fundamental é precária e muitas crianças não possuem acesso às escolas. Em função dessa demanda, instituições particulares dirigidas por adventistas locais têm permissão de funcionamento e chegam até a empregar missionários estrangeiros como professores. Com o apoio da igreja mundial, o seminário teológico foi reaberto no país. Ainda que em fase embrionária, essa escola é a esperança de formação de novos líderes.

A área da saúde também é bem desenvolvida no país, porém, pouca atenção é dada à orientação preventiva. Por isso, padrões de higiene e de alimentação são até mesmo precários. Existem muitos casos de malária, DSTs e cárie. Há, portanto, um grande campo a ser explorado nesse sentido. Finalmente, o plantio de igrejas a partir de discípulos locais capacitados tem sido uma das molas propulsoras da missão no país. Além de congregações, diversos centros de influência têm sido estabelecidos para atender com eficiência as necessidades da população e atraí-las para Jesus.


Primeiros passos

Temos atuado aqui junto ao seminário, procurando dar suporte organizacional e disciplinas como Inglês. Um centro de influência foi aberto em parceria com os estudantes do seminário, oferecendo atividades educacionais para crianças e jovens: aulas de música, idiomas e tutoria em atividades escolares. Tudo isso para facilitar a construção de relacionamentos significativos e promover a formação de pequenos grupos em que a Bíblia possa ser aberta e estudada com segurança.

A principal e mais urgente atividade está no discipulado de líderes locais, procurando suprir as demandas deles por conhecimento bíblico e teológico básico, capacitação e promovendo a integração da igreja local com as orientações da denominação em nível mundial. Não sem razão, o trabalho tem sido mais fácil com as novas gerações de adventistas, porque estão mais abertos ao ensino e não carregam consigo tantos temores do passado como os mais velhos. Prova disso, é que recentemente um grupo nos procurou e pediu que os treinássemos para que plantassem igrejas. Ficamos profundamente tocados com isso, pois oramos nessa direção por algum tempo.

Nossas perspectivas aqui são bastante animadoras. A cada dia Deus tem nos ensinado a depender dele para as mais simples decisões e nos dado a alegria de participar do plano missionário que ele tem para a humanidade perdida. Da mesma forma, o companheirismo sincero desses queridos filhos de Deus que temos conhecido aqui têm nos feito ansiar mais pelo grande encontro da família dos redimidos.

Enquanto procuramos cumprir esses propósitos do Senhor por aqui, oramos para que mais ceifeiros decidam deixar o celeiro e vir para os campos, pois eles já estão brancos para a ceifa (Jo 4:35, ACF). Por favor ore pelo trabalho aqui, auxilie o campo mundial com suas ofertas específicas e, se você sentir seu coração ardendo enquanto lê esse relato, considere sinceramente a possibilidade de Deus o estar chamando para se engajar na missão transcultural. Se você tomar essa decisão, avance com fé e Deus se encarregará do restante.

G. é graduado em Administração, pós-graduado em Missiologia e tem um mestrado em Ciências Sociais.

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