sábado, 11 de julho de 2015

Cultura ou Escritura?

O grande teste da fé é se manter fiel à Bíblia quando ela contraria os valores do nosso tempo



A declaração de Ellen White de que a Bíblia é “a voz de Deus nos falando […] como se pudéssemos ouvi-la literalmente” (Testemunhos para a Igreja, v. 6, p. 393) é, ao mesmo tempo, confortante e desafiadora.

Ela é facilmente aceita quando a Bíblia diz que “Deus é amor” (1Jo 4:8), que Jesus foi preparar “moradas” para nós (Jo 14:2) e que ele pode “nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1:9).

No entanto, a mesma Bíblia também afirma que os israelitas foram instrumentos divinos para punição dos cananeus (Lv 26:7, 8), que o escravo Onésimo deveria voltar para seu senhor (Fm 12), que as mulheres devem ser “sujeitas” ao marido (Ef 5:22; 1Pe 3:1) e que os “efeminados” não herdarão “o reino de Deus” (1Co 6:10). Para muitos, nisso, a Bíblia entra em choque com os valores mais lógicos e atuais e deixa de parecer a voz de um Deus de amor.

Inclusão e igualdade são hoje ideais hegemônicos. É coerente e atual abrir espaço para as minorias marginalizadas. Defender os direitos femininos irrestritos é politicamente correto. Diante disso, certas declarações bíblicas têm causado constrangimento. As indagações surgem às dezenas:

Por que Deus manteria aliança com os israelitas se eles fizeram “pior” do que os cananeus que haviam contaminado a terra de Canaã (2Rs 21:9)? Não teria essa história sido narrada da perspectiva de Israel, retratando os cananeus como ímpios, quando na verdade os israelitas foram piores do que eles? Por que a escravidão foi tolerada ao longo de séculos sem nenhuma condenação direta? Por que a Bíblia, desde o princípio, não estabeleceu a igualdade entre homem e mulher, combatendo o machismo? Por que a marginalização não foi encarada corajosamente, da mesma forma que Jesus defendeu a mulher adúltera?


Lentes da cultura

Para muitos, a resposta é simples: a verdade bíblica, transmitida pelos autores inspirados, se acomoda às estruturas socioculturais do contexto em que foi escrita. Essa abordagem procura resolver os dilemas causados pelo relato bíblico quando este entra em choque com os valores e a visão de mundo do tempo atual. Para os defensores do ponto de vista da verdade aculturalizada, o relato bíblico da criação, por exemplo, incorpora as ideias mitológicas do tempo de Moisés e a descrição dos costumes sociais reproduz os valores do contexto em questão sem interferir neles. Portanto, essas pessoas defendem que, hoje, o ensino das origens deve substituir as ideias de Moisés pela visão dominante da ciência. Da mesma forma, uma abordagem atual da condição da mulher e dos excluídos deve incorporar o sentimento de igualdade e inclusão predominantes.

Além disso, a valorização da pluralidade na cultura pós-moderna tem fomentado leituras diversas da Escritura, possibilitando a cada grupo social uma teologia específica. Existe a teologia da libertação, que usa a Bíblia para dar voz aos pobres e oprimidos; a teologia feminista, que empreende a defesa da mulher; a teologia negra e a teologia homossexual, em defesa dos marginalizados. Todas essas abordagens partem da suspeita de que há sistemas de dominação na sociedade e que a tarefa da teologia é desmontar tais estruturas sociais e promover a emancipação das diversas classes oprimidas. Henry A. Vikler afirma que “a hermenêutica da suspeita reivindica a tarefa de desmascarar a visão de mundo em que o texto bíblico se apoia, a qual se suspeita ser o suporte dos poderosos em sua opressão sobre os fracos” (Hermeneutics: Principles and Process of Biblical Interpretation, p. 69).

Orientados por esse espírito desconstrucionista, os teólogos dissecam o texto bíblico como se fosse possível estabelecer quando os autores inspirados estão transmitindo uma verdade espiritual e quando estão apenas refletindo a visão de mundo e as ultrapassadas estruturas socioculturais de seu tempo. Decorre daí a centralidade do intérprete em detrimento da autoridade do texto sagrado.


Submissão à Palavra

Contrariamente a essa tendência de elevar o intérprete acima do autor inspirado e de considerar a Palavra de Deus como acomodada à cultura antiga, Cristo endossou “todas as Escrituras” (Lc 24:27), e Paulo declarou que “toda a Escritura é divinamente inspirada por Deus” (2Tm 3:16).

Em defesa da verdade bíblica, Ekkehardt Mueller afirma que “a Palavra de Deus não é cultural nem historicamente condicionada, mas cultural/historicamente constituída”. Apesar de ser transmitida por meio da linguagem humana, “ela transcende a cultura e nos alcança hoje”. Por isso, diz ele, “o que o texto bíblico significava em seu ambiente original é precisamente o que ele significa para nós hoje”, e toda a verdade bíblica precisa ser entendida a partir de “seu significado original” (Compreendendo as Escrituras, p. 113).

Quando os dilemas sociais são analisados no contexto bíblico, deve-se notar que a salvação é o objetivo primordial da revelação divina. Nessa perspectiva, Deus foi capaz de libertar o povo de Israel da escravidão egípcia, quando essa condição comprometia o plano da salvação, mas ele também foi capaz de entregar esse mesmo povo à escravidão novamente, sob as mãos do rei pagão Nabucodonosor, a quem ele chamou de “meu servo” (Jr 25:9). Libertar e escravizar do ponto de vista social são ações subordinadas ao plano da salvação, que é superior e essencial, ficando subentendido que a escravidão decorre do afastamento do plano salvífico de Deus.

Diante das expectativas dos discípulos acerca da restauração do reino de Israel e da libertação do jugo romano, Jesus foi claro em dizer que o reino de Deus estava dentro deles (Lc 17:20, 21). Esse reino espiritual, que liberta do poder do pecado, é a essência do reino da graça inaugurado por Jesus. Mais tarde, antes da descida do Espírito, ele disse que não competia aos discípulos saber o tempo para a implantação do reino da glória (At 1:6, 7), que incluiria libertação social e política de todo tipo de jugo. O objetivo da manifestação e da ação de Deus na história é a salvação de seus filhos.

É notório que Jesus não só frustrou as expectativas emancipatórias imediatas dos discípulos, mas disse que eles seriam perseguidos e maltratados por causa de seu nome (Lc 21:12). Ele deixou sugerido que Roma continuaria soberana e que perseguiria os próprios crentes. E não esboçou nenhum plano de quebrar esse poder, senão no reino da glória. O plano da salvação é prioritário, e essa questão deve ser levada em conta na leitura dos relatos bíblicos envolvendo questões sociais.

A despeito disso, porém, é preciso considerar que a submissão da mulher na Bíblia não é a mesma da cultura machista do mundo. A relação da igreja com Cristo é o modelo da submissão feminina e da autoridade masculina. O escravo na Bíblia também não é o mesmo escravo da história europeia-americana, pois não raro o escravo em Israel preferia ficar com seu senhor quando ele podia ser livre (Dt 15:13-16). Todos os pecadores, por mais socialmente excluídos que sejam, são salvos mediante o arrependimento e abandono do pecado possibilitados pela graça de Cristo.

Nas últimas décadas, os cristãos têm manifestado grande reverência para com as Escrituras. Nunca se leu tanto a Bíblia nem jamais foram vendidas tantas cópias do livro sagrado. No entanto, as Escrituras têm sido lidas mais como um compêndio de autoajuda do que como revelação da verdade divina.

O teólogo britânico John Barton considera que as hermenêuticas pós-modernas “permitem às pessoas atribuir o significado que elas desejam ver nos textos sagrados”. Essa abordagem oferece um modelo de exegese que proporciona às pessoas “bem-estar dentro de suas comunidades”. Segundo ele, na verdade, os crentes pós-modernos não desejam ser desafiados pelo significado do texto bíblico, a despeito do “lugar de honra” que dão à Bíblia (Cambridge Companion to Biblical Interpretation, p. 18).


Teste da fé

O grande teste da reverência para com a verdade bíblica não é quando a Bíblia afirma o que acreditamos, mas quando ela contraria nossas expectativas e convicções mais íntimas. A mesma voz que diz que Jesus pode perdoar nossos pecados também afirma que a igreja não é deste mundo nem deve se acomodar à cultura secular; em vez disso, precisa ser separada.

O teste da fé é quando a Bíblia diz uma coisa que a ciência, com seus métodos, tem demonstrado o contrário. É quando um autor inspirado faz uma afirmação que entra em choque direto com os valores do nosso tempo. Manter essa afirmação inspirada é não apenas uma questão de fé, mas de submissão.

Nisso, a própria Bíblia nos dá inúmeros exemplos. Jó pôde dizer: “ainda que ele me mate nele esperarei” (Jó 13:15). O pequeno Samuel disse: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve” (1Sm 3:9). A primeira característica da fé é a submissão à voz de Deus.

Vanderlei Dorneles é Doutor em Ciências pela Escola de Comunicação e Artes (USP) e redator-chefe associado na CPB

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Um dia que entrou para a história da igreja

Por uma diferença de 404 votos (1.381 a 977, ou 58,4% a 41,3%), Igreja Adventista decide não ordenar mulheres ao ministério pastoral



A expectativa em relação às decisões da assembleia mundial da Igreja Adventista nesta quarta, 8 de julho, estava no ar. Que a agenda era um dos pontos altos da assembleia, ninguém duvidava. Afinal, o tema da ordenação de mulheres ao ministério prometia ser um divisor entre o passado e o futuro da igreja.

Alguns diferenciais puderam ser notados desde o início: a liderança reservou um dia inteiro para tratar do assunto; foram escalados alguns dos líderes mais experientes para coordenar as atividades; o auditório estava bem mais cheio do que de costume; e a promessa era contabilizar o “sim” e o “não”, pelo voto secreto, no fim da tarde.

O pastor Mark Finley, respeitado evangelista, liderou os momentos iniciais de oração. Destacou que somos apaixonados a respeito de muitas coisas, mas devemos manter o espírito de amor e a união em Cristo.

A música instrumental “Quão Grande És Tu”, apresentada pela banda Ensamble de Metales, da Universidade de Montemorelos, no México, deu um tom solene ao evento, sugerindo que o Deus transcendente está acima dos debates humanos.

No devocional que tradicionalmente marca o início das atividades de cada dia da assembleia, Alain Coralie, da Divisão Centro-Leste Africana, apresentou uma vibrante mensagem intitulada “Through Trials to Triumph”, certamente uma das melhores do evento.

Com base em Josué 4, ele retratou o povo de Israel jornadeando pelo deserto durante 40 anos, rumo à terra prometida. A travessia do Jordão exigia um milagre divino, mas também a preparação do povo, que deveria dar um passo de fé.

Então, destacando a importância de se manter o olhar na história, ele fez uma ponte para o adventismo e acrescentou: “Se não soubermos por que chegamos aqui, não saberemos como chegar lá.” Segundo Alain, Deus tem sido bom para nós como denominação e como indivíduos. Se não fosse assim, não estaríamos aqui.

“A igreja não deve esquecer sua história, mas não pode ficar presa ao passado”, acrescentou. Por definição, os adventistas olham para o futuro. Enquanto não devemos esquecer os sofrimentos e as conquistas dos pioneiros, nós mesmos fomos chamados para ser pioneiros, ele completou.

Na sequência, depois de mais oração, Michael Ryan, vice-presidente da denominação que está se aposentando, assumiu o comando dos trabalhos. Se alguns têm um estilo suave de presidir, como Ella Simmons, que atuou no dia anterior, Ryan é conhecido por sua firmeza. Considerando a pauta difícil, ficou claro que ele não foi escolhido por acaso.

Ryan começou observando que em um grupo grande como o da igreja há muitas ideias diferentes, e todos deveriam ser respeitosos em seus comentários. E que o mesmo espírito revelado em um encontro da igreja mundial em 2014 deveria ser manifestado. Para ele, o objetivo era ter o maior número possível de pessoas expressando sua opinião nos microfones.


Documentos

Antes de prosseguir, Ryan chamou o pastor Ted Wilson, presidente reeleito da igreja, para apresentar um histórico dos estudos sobre a ordenação de mulheres. Wilson relatou que, desde a década de 1970, a igreja vem debatendo o assunto.



O presidente expressou seu desejo de ver um debate aberto e honesto. E pediu para que ninguém tentasse encerrar a discussão com uma moção (proposta), um dos recursos utilizados pelo plenário em outros momentos. Cada um deveria votar de acordo com a sua consciência, orientada pelo estudo do assunto e guiada pelo Espírito Santo. Novamente, foi ressaltado que, apesar das fortes convicções, o espírito de cortesia devia prevalecer.

Reconhecendo a gravidade da decisão diante do grupo, Ryan pediu para que se formassem grupos de dois ou três a fim de dedicar alguns momentos à oração, clamando pela orientação divina e um bom espírito. Foram vários momentos de oração. Em geral, os participantes desse tipo de debate são pessoas bem preparadas, com opiniões fortes, e pode ser grande a tentação de transformar o fórum do diálogo em um cenário de guerra.

Arthur Stele, presidente da última comissão teológica de estudo da ordenação (TOSC, na sigla em inglês), teve a oportunidade de explicar o processo de investigação do tema. “Qualquer coisa que façamos, vamos fazer com o objetivo de cumprir a missão”, sugeriu.

Ele relembrou que os documentos foram disponibilizados online (para acessá-los, clique aqui) para que cada um pudesse estudá-los e tomar uma decisão consciente. A palavra final agora estava com os representantes da igreja, mas cabia à família adventista manter o espírito de unidade: “Numa família, não há vencedores e perdedores. Ou todos ganham ou todos perdem.”

Para tornar o debate mais didático, Karen Porter, secretária da comissão teológica, leu as três posições e a declaração de consenso (leia aqui).

A questão que deveria ser respondida foi: “É aceitável que a comissão executiva de cada divisão, caso considere apropriado em seu território, implemente os dispositivos necessários para a ordenação das mulheres ao ministério? Sim ou não?”


Debate

Às 11h10, Ryan novamente pediu um momento de oração. O clima no auditório, diferentemente do início da assembleia, marcado por certa polarização entre a América do Norte e o chamado Sul Global, era de calma e paz.

Por fim, após o secretário da Associação Geral ler o documento “Teologia e a prática da ordenação ministerial”, os delegados estavam prontos para expressar suas opiniões, alternando-se vozes em favor do “sim” e do “não”.

Dezenas de delegados de ambos os lados registraram-se para expressar seus pontos de vista. A tela mostrava a imagem e a identificação da pessoa, bem como se estava defendendo o “sim” ou o “não”. Enquanto isso, um grupo de membros da igreja intercedia na sala de oração.

Por exemplo, John Brunt, pastor de uma grande igreja na Califórnia, utilizou seus dois minutos para argumentar em favor da justiça da causa da ordenação. Exemplificou que em seu staff há vários pastores e quatro pastoras, que batizam mais do que todos os ministros.

Carlos Steger, reitor do seminário adventista da Argentina, e Frank Hasel, professor de teologia na Europa, defenderam o “não” em nome da unidade da igreja.

Por sua vez, Lawrence Geraty, ex-presidente da Universidade de La Sierra, destacou a necessidade de missionários na América do Norte.

A sessão da manhã terminou ao meio-dia com cerca de 80 pessoas nas filas para falar. O intervalo para o almoço trouxe ainda mais energia para o reinício do debate, às 14h.



Entre outros defensores do “não”, o Dr. Mario Veloso, que atuou em várias áreas da igreja, disse que desde 1973 ele tem feito parte das comissões que tratam do assunto, e os argumentos, textos bíblicos e citações dos escritos de Ellen White são sempre os mesmos.

Lowell Cooper, vice-presidente da igreja que está se aposentando, evocou vários pontos, como a teologia dos dons espirituais, para defender que a ordenação seria a expressão da necessidade da igreja em diferentes circunstâncias.

Já Colleen Zimbeva, da Divisão Sul-Africana Oceano Índico, sugeriu que as mulheres podem trabalhar sem a ordenação.

David Poloche, da Divisão Interamericana, mencionou o tempo dos juízes, em que cada um fazia o que achava correto. “Não vivemos mais nessa época”, disse. “Por 30 anos, a igreja tem estudado o assunto e ainda não encontrou razões bíblicas para ordenar.” Para ele, se cada divisão fizer o que considera correto, isso não seria unidade.

Às 15h15, conforme previsto, Ryan convidou o pastor Jan Paulsen, ex-presidente da Associação Geral, para fazer um comentário. Paulsen fez um apelo apaixonado em favor do “sim”, argumentando que o “não” poderia causar um sério dano à unidade da igreja. Assim como os membros da África e da América do Sul confiam em seus líderes, ele ponderou, os delegados deviam confiar que os líderes de outras regiões sabem o que é melhor para a igreja em seu território. A fala causou certo desconforto.

Entretanto, o debate continuou. Samuel Larmie, da Divisão Centro-Oeste Africana, partidário do “não”, argumentou que a verdade é uma e a igreja é uma. O que não é bom para uma parte do mundo não é bom para outra parte.

Charles Sandefur, da Associação Geral, defendendo o “sim”, disse que no concílio de Jerusalém, sem equipamentos e grandes comissões de estudo, mas guiados pelo Espírito Santo, os primeiros cristãos se reuniram e em um dia resolveram a questão da circuncisão, liberando os gentios da prática.

Segundo a contagem dos jornalistas da Adventist Review, 40 delegados – 20 a favor e 20 contra – conseguiram expressar sua posição nos microfones. E a discussão foi interrompida 35 vezes por delegados que desejavam fazer alguma objeção sobre determinado aspecto do procedimento.

Às 16h15, o pastor Ted Wilson, num pronunciamento pré-agendado, disse que todos sabiam sua posição (“não”), que ele considera bíblica, e fez um apelo em favor da unidade.


Votação

Finalmente, o horário de encerramento do debate, marcado para as 16h30, estava chegando. Alguns pediram mais tempo, mas o dirigente da reunião não concedeu, pois isso não estava previsto no regulamento.

Feitos os preparativos, os delegados foram instruídos a retirar a cédula de votação, registrando sua presença pela leitura do código de barras do crachá e depositando em seguida o voto numa das urnas. Os anos de estudos e debates agora se resumiriam a “sim” ou “não” (escritos em cinco línguas na cédula), de acordo com o entendimento e a consciência de cada um.

Segundo o secretário associado Myron Iseminger, o sistema de voto secreto foi preparado com antecedência, caso o equipamento eletrônico não funcionasse como esperado. E, de fato, não funcionou.


Ao som de hinos antigos, a contagem dos votos, mais uma vez, deixou a igreja na posição em que estava. Dos 2.363 delegados presentes, 977 (41,3%) votaram “sim” e 1.381 (58,4%) votaram “não”, além de cinco abstenções, o que encerrou, espera-se, cinco anos de debates vigorosos e, às vezes, acalorados sobre um tema polêmico, em que pastores e teólogos respeitados se posicionam de ambos os lados.

Essa decisão não significa que as mulheres não vão ocupar posições de destaque na igreja, pois desde o início de sua história isso tem ocorrido, a começar por Ellen White.


O pastor Ted Wilson fez novo apelo por unidade e foco total na missão, orando pela cura e a unidade que vêm “pelo poder do Espírito Santo”. A audiência cantou o hino “Oh! Que Esperança”, e assim mais um capítulo da epopeia da (não) ordenação de mulheres chegou ao fim. “Agora é o momento de unificar [a igreja] sob a bandeira ensanguentada de Jesus Cristo e seu poder”, ele disse para um Alamodome ainda lotado.

Alguém pode achar que tudo isso representou muito esforço para um resultado (in)esperado. Contudo, é assim que a igreja trabalha. Tomar uma decisão rapidamente poderia ser mais fácil, mas o resultado talvez se mostrasse menos duradouro. Em suas idas e vindas, argumentos e contra-argumentos, o povo de Deus prossegue em sua trajetória. No mínimo, o processo serviu de base para uma decisão consciente, além de ser um exercício didático de como “fazer” igreja. Michael Ryan confessou sua satisfação pelo “espírito dócil” e o decoro demonstrados na reunião.

O sentimento de alguns líderes é que não houve vencedores e perdedores, pois, se a decisão for encarada como disputa, então todos serão perdedores. “Naturalmente, os membros da nossa divisão estão desapontados com o resultado, mas estamos comprometidos com a missão da igreja mundial”, comentou o pastor Daniel Jackson, presidente da Divisão Norte-Americana. Para Mark Finley, agora é preciso deixar para trás a discussão sobre ordenação e alcançar o mundo perdido. Porque, afinal, Cristo é o “sim” de Deus (2Co 1:20) para todos.

Marcos De Benedicto é editor da Revista Adventista

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Luz para o Oriente

As portas que estão se abrindo para o evangelho num país em que a igreja foi clandestina por várias décadas

Relatório da Divisão do Pacífico Norte-Asiático apresentado
na assembleia mundial em San Antonio, nesta terça-feira, 
8 de julho, mostrou os avanços e desafios da igreja nesta 
parte do globo. Foto: Leônidas Guedes
Há alguns meses, minha esposa e eu desembarcamos do outro lado do globo. Levamos alguns dias para superar os efeitos do fuso-horário de mais de dez horas de diferença à frente do Brasil e algumas semanas para iniciar o processo de adaptação gradual às diferenças culturais. Hoje, estamos focados no aprendizado e domínio da língua local, na compreensão da cultura e em desenvolver um planejamento estratégico sustentável de longo prazo. Para tanto, como lição de casa, estudei o histórico da igreja nesse país, as necessidades da sociedade local e como podemos cooperar para a missão de Deus nesse lugar.


Igreja clandestina

A história do adventismo nesse país pode ser dividida em três fases:

1886 a 1949: os primeiros adventistas chegam ao país, encontrando campo fértil e uma grande colheita é testemunhada. Milhares de pessoas receberam estudos bíblicos, inúmeras séries de evangelismo foram organizadas, erigidos hospitais, casa publicadora, centro de formação teológica além de uma sede administrativa com status de Divisão, que coordenava o trabalho no país. Havia também muitos líderes capacitados, estrutura organizacional praticamente consolidada e adventistas maduros e comprometidos.

1950 a 1990: uma dramática série de mudanças políticas fechou as portas do país para a liberdade religiosa: missionários estrangeiros foram expulsos, o evangelismo foi proibido, as propriedades da igreja foram confiscadas e diversos pastores e lideres presos ou executados. A religião passou a ser controlada pelo Estado através de uma entidade secular e a sede da denominação foi realocada fora do país e sem permissão para intervenções diretas, atuando apenas como um órgão consultivo da igreja mundial.

1990 até o presente: através da globalização, o país tem experimentado acentuado crescimento econômico, abertura para valores ocidentais como a cultura de consumo e certa tolerância religiosa, ainda que lenta e progressiva. O fato é que, desde a década de 1990, um novo “despertamento” religioso tem sido testemunhado por aqui. Deus, de alguma forma, não somente preservou os adventistas locais como os multiplicou de 20 mil para 400 mil fiéis. Diversos missionários estrangeiros têm trabalhado cautelosamente no país e existe agora um cenário mais favorável para isso.


Barreiras que se erguem

Os desafios para a missão aqui são muitos, mas destaco os maiores. (1) estruturais, a repressão religiosa liderada pelo Estado impediu a ação organizacional da igreja. Consequentemente, desde 1949 a igreja no país opera no modelo “congregacionalista”, pastores (em grande maioria leigos) têm total autonomia sobre dízimos, espaços de culto, formas litúrgicas e o ensino das crenças; (2) teológico e doutrinário: o “congregacionalismo” contribuiu para a formação de “versões do adventismo”, cada qual com seu pacote doutrinário e liberdade para realizar a ordenação sem quaisquer critérios bíblicos. Há também poucos pastores com formação teológica (estima-se menos de 250) o que faz com que as igrejas existentes sejam em geral superficiais em sua apresentação da verdade bíblica e até pouco atrativas para os visitantes.

(3) resistência cultural às mudanças. O país possui uma história milenar de guerras, fome, caos e conflitos por poder, que mataram, somente no último século, mais de 90 milhões de habitantes. Portanto, quaisquer tentativas de mudanças bruscas na cultura ou na igreja ascendem a luz de alerta geral na mente dos nativos; e (4) domínio da língua local. Muito distinta das línguas ocidentais, aprendê-la é um desafio. Porém, apesar do pouco tempo de conivência no país, minha esposa e eu já conseguimos compreender o que as pessoas falam e expressar ideias básicas.


Portas que se abrem

Vejo que as oportunidades são maiores do que os desafios. A principal porta que se abre aqui é a percepção dos adventistas locais de que eles precisam de ajuda estrangeira. Meio caminho andado para um missionário! Muitos membros são realmente sedentos pela verdade e extremamente comprometidos com a missão. Talvez falte orientação.

Como áreas de atuação, penso que o tripé – educação, saúde e pregação – utilizado por Jesus e valorizado pela Igreja Adventista pode responder às necessidades imediatas deste lugar. O ensino superior é avançado no país, mas a educação fundamental é precária e muitas crianças não possuem acesso às escolas. Em função dessa demanda, instituições particulares dirigidas por adventistas locais têm permissão de funcionamento e chegam até a empregar missionários estrangeiros como professores. Com o apoio da igreja mundial, o seminário teológico foi reaberto no país. Ainda que em fase embrionária, essa escola é a esperança de formação de novos líderes.

A área da saúde também é bem desenvolvida no país, porém, pouca atenção é dada à orientação preventiva. Por isso, padrões de higiene e de alimentação são até mesmo precários. Existem muitos casos de malária, DSTs e cárie. Há, portanto, um grande campo a ser explorado nesse sentido. Finalmente, o plantio de igrejas a partir de discípulos locais capacitados tem sido uma das molas propulsoras da missão no país. Além de congregações, diversos centros de influência têm sido estabelecidos para atender com eficiência as necessidades da população e atraí-las para Jesus.


Primeiros passos

Temos atuado aqui junto ao seminário, procurando dar suporte organizacional e disciplinas como Inglês. Um centro de influência foi aberto em parceria com os estudantes do seminário, oferecendo atividades educacionais para crianças e jovens: aulas de música, idiomas e tutoria em atividades escolares. Tudo isso para facilitar a construção de relacionamentos significativos e promover a formação de pequenos grupos em que a Bíblia possa ser aberta e estudada com segurança.

A principal e mais urgente atividade está no discipulado de líderes locais, procurando suprir as demandas deles por conhecimento bíblico e teológico básico, capacitação e promovendo a integração da igreja local com as orientações da denominação em nível mundial. Não sem razão, o trabalho tem sido mais fácil com as novas gerações de adventistas, porque estão mais abertos ao ensino e não carregam consigo tantos temores do passado como os mais velhos. Prova disso, é que recentemente um grupo nos procurou e pediu que os treinássemos para que plantassem igrejas. Ficamos profundamente tocados com isso, pois oramos nessa direção por algum tempo.

Nossas perspectivas aqui são bastante animadoras. A cada dia Deus tem nos ensinado a depender dele para as mais simples decisões e nos dado a alegria de participar do plano missionário que ele tem para a humanidade perdida. Da mesma forma, o companheirismo sincero desses queridos filhos de Deus que temos conhecido aqui têm nos feito ansiar mais pelo grande encontro da família dos redimidos.

Enquanto procuramos cumprir esses propósitos do Senhor por aqui, oramos para que mais ceifeiros decidam deixar o celeiro e vir para os campos, pois eles já estão brancos para a ceifa (Jo 4:35, ACF). Por favor ore pelo trabalho aqui, auxilie o campo mundial com suas ofertas específicas e, se você sentir seu coração ardendo enquanto lê esse relato, considere sinceramente a possibilidade de Deus o estar chamando para se engajar na missão transcultural. Se você tomar essa decisão, avance com fé e Deus se encarregará do restante.

G. é graduado em Administração, pós-graduado em Missiologia e tem um mestrado em Ciências Sociais.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Divisão da ACN favorece o crescimento da igreja

Líderes da Iasd na Região Nordeste se reuniram em Teresina, PI


Dividir para multiplicar. Este pensamento, embora paradoxo, é o que vem ocupando a cabeça da liderança da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Iasd) na Associação Costa-Norte (ACN). Em reunião realizada por líderes da Iasd para os estados do Ceará e Piauí na última quarta-feira (22), em Teresina, PI, está encaminhado a divisão da associação em dois novos campos, Associação Cearense e Missão Piauiense.

Um dos participantes da primeira reunião, Lindomar Rodrigues, ancião da Iasd Central de Sobral, diz que “essa reunião foi para que a Divisão Sul-Americana (DSA) conhecer o projeto e examinar a proposta para levar um parecer para a mesa diretora da DSA. Acredito que na próxima reunião, dia 24 de maio, tudo será resolvido, pois eles levaram um parecer favorável do projeto”.

“Essa divisão só vem beneficiar os dois estados. O Piauí, porque terá a sede de sua administração mais próxima deles e o Ceará porque terá uma administração para um estado só”, conta o Pr. Paulo Henrique, do Distrito de Sobral I. “Sempre que um novo campo surge, há um crescimento substancial e acelerado. É um sinal que a igreja está avançando. Vai ser benção, é benção”, concluiu.

Entre os presentes na primeira reunião estiveram o presidente da DSA, Erton Köhler, o presidente da União Nordeste Brasileira, Moisés Moacir, e o presidente da ACN, Lucas Alves.

domingo, 5 de abril de 2015

I Assembleia de PGs de 2015 é realizada na IASD Central


Analisar e fazer um balanço das ações que estão sendo feitas no aspecto da comunhão, do relacionamento e da missão. Estes eram os pensamentos na I Assembleia de Pequenos Grupos (PG) de 2015, da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) de Sobral, Distrito I, realizado na manhã deste sábado (4).

“A ideia da assembleia é reunir a comunidade cristã para ouvir o que está sendo feito para avançar na pregação do evangelho. Pudemos ouvir alguns bons testemunhos, vindos de irmãos de Fortaleza, do Bairro da Aldeota e também aqui da nossa região, para estimular a outros a participar também nessa missão”, comentou o pastor do Distrito I, Paulo Henrique.

A que tem tido maior destaque no evangelismo e trabalho dos PGs é na cidade de Meruoca. Eles tem tido um resultado significativo. Eles criaram um sistema de gerenciamento das atividades que eles fazem semanalmente onde é avaliado o que está sendo feito, o que não está, o que deve ser feito e a medida que avançam, os ajustes necessários e Um batismo neste domingo, essa pessoa visitou um PG e tomou essa decisão.

Ele lembra que criação e sustentabilidade de novos PGs nesta região é um desafio a ser vencido, mas os poucos existentes trazem bons resultados. “A boa notícia é que as poucas experiências que nós temos, tem dado muito certo, e penso que a partir desses que tem funcionado, nós vamos sair contagiando os demais”, concluiu.




Ao final da mensagem de exortação, o pregador apelou aos ouvintes para a formação de anfitriões e novos líderes de PGs, onde alguns aceitaram o novo desafio.

São 25 PGs em todo o Distrito I da IASD no município. Fazem parte hoje do Distrito I, a Igreja Central de Sobral, a de Meruoca e grupos nos distritos do município de Sobral: Ubaúna, Rafael Arruda, São José do Torto e Jordão. Até ao final do ano a meta é dobrar o número de PGs.